Motivação, amor ao esporte e muita vontade de
orientar crianças e jovens. Três fatores simples que motivaram o padre Henrique
José da Rocha Coimbra, da Paróquia Sagrada Família, localizada no Complexo da
Maré, bairro de Nova Holanda - Bonsucesso, a implantar o esporte na própria
igreja. Há seis meses ele busca mudar a vida de cerca de 115 pessoas através da
atividade física. Até agora, três modalidades de luta foram implantadas:
jiu-jitsu, muay thai e tai chi chuan, além da capoeira, uma arte
folclórica.
Na incessante busca de integrar, disciplinar
e evangelizar os fiéis da comunidade, o pároco escolheu o esporte, uma de suas
atividades favoritas.
“O esporte dá um sentido na vida, e também
pode ser um bom caminho para a iniciação da espiritualidade’’, disse
empolgado.
O próprio pároco nos tempos vagos participa
das aulas como forma de incentivo e aproximação dos frequentadores do esporte.
Ele afirmou que ser cristão é, acima de tudo, humano e que por isto gosta de
estar ativo e junto da comunidade.
Além do padre Henrique, a paróquia conta com
o apoio de três lutadores profissionais, que ministram as aulas numa sala de
catequese, adaptada improvisadamente.
O contramestre de capoeira e atleta graduado
em jiu-jitsu Cristiano de Souza, de 29 anos, disse que se iniciou na vida
eclesial através de um projeto do mesmo feitio na Paróquia Nossa Senhora dos
Navegantes, também em Bonsucesso.
“Comecei no esporte por causa de um projeto
paroquiano aos oito anos. Foi uma oportunidade de conhecer a Igreja e o esporte
juntos. Então, eu sei a importância deste tipo de trabalho’’, lembrou
Cristiano.
À frente das turmas de capoeira (Maré de
Bambas) e jiu-jitsu (equipe Alan Moraes) na paróquia, Cristiano conta com uma
média de 65 alunos, muitos deles atraídos por meio de apresentações da arte
dentro da própria comunidade. A turma da capoeira mantém as rodas de jogo nas
ruas, a fim de mostrar o trabalho para familiares e curiosos. A de jiu-jitsu
não pode fazer o mesmo, mas já soma seis medalhistas de ouro em campeonatos
cariocas de luta.
Fazendo a diferença
Durante as aulas, Cristiano consegue perceber
de diversas maneiras a diferença que a prática das lutas vem fazendo na vida
dos jovens e, principalmente, das crianças.
Além
de ensinar, é necessário se dispor também a ouvir, compreender e educar. Ele
relata um caso comum em meio ao dia a dia.
“Uma vez um menino de sete anos foi para a
aula agitado, estava inquieto. Perguntei o motivo daquilo: ele disse estar
estressado e apenas com o almoço no estômago. Entendi tudo. O levei para fazer
um lanche e, aos poucos, fui compreendendo aquele universo. Assim tento fazer
com todos, se não eu seria só mais um a julgar e repreender a vida destes pequenos’’.
Tirando o foco das drogas
Além da carência de atenção, há também outra
questão pertinente: as drogas. Os índices de tráfico e crime são muito altos no
Complexo da Maré. Os atendidos vivem diariamente neste meio, presenciam e sabem
como tudo acontece. Um dos principais focos da implantação das atividades é
desviar a atenção dos jovens deste ciclo vicioso e desconstruir a ideia de que
a única maneira de ganhar a vida fácil é através da ilegalidade. Tudo é
conversado dentro de sala, de forma bem leve.
“Às vezes jogo umas ideias destas e, no final
das aulas, sempre dou umas palavras de incentivo. É uma tentativa de
evangelizar e, com isto, já estou vendo vários alunos meus na missa de
domingo’’, contou Francisco de Paula, de 30 anos, professor graduado pela Liga
Carioca de Muay Thai. Ele dispensa seu trabalho no meio esportista somente à
Igreja, e recusou convite para dar aulas numa conceituada academia do Rio de
Janeiro para que pudesse formar a turma Milithai, na Maré. ‘’Sempre quis servir
a Igreja com o que eu sei’’, diz. Segundo Francisco, a Maré precisa muito mais
deste tipo de trabalho, pois antes só havia um em toda área. Atualmente, alunos
do projeto já existente migraram em peso para a paróquia, justamente por conta
do acolhimento que os é dado.
Inclusão
Apesar de se tratar de luta, as aulas contam
com homens e mulheres. Todos são bem-vindos.
Na turma de jiu-jitsu há três crianças
autistas. A mãe de um deles foi até o professor Cristiano agradecer pela
notável melhora na concentração do menino. A mesma turma conta com vários
alunos que não têm condições financeiras de sequer comprar o quimono, uniforme
estritamente necessário para a prática. Por isto, a coordenação reverte 100% da
taxa de mensalidade dos alunos (R$ 20) a favor deles mesmos, comprando, aos
poucos, uniformes para os que não têm e alguns equipamentos essenciais. Porém,
não é o total suficiente.
Serviço
Quem quiser colaborar com a manutenção das
atividades esportivas na paróquia, seja doando um uniforme, um equipamento ou
qualquer quantia em dinheiro, faça isto. Tudo será inteiramente revertido ao
trabalho.
Entre em contato com a secretaria da Paróquia
Sagrada Família e saiba como contribuir. Telefones: 3105-0599 ou 3866-8539 -
E-mail: par.sagradafamilia@gmail.com.
Fotos:
João Pedro Pereira
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/4773/paroquia-sagrada-familia-uma-mare-de-inclusao-e-amor
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