quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Paróquia Sagrada Família: uma maré de inclusão e amor

Motivação, amor ao esporte e muita vontade de orientar crianças e jovens. Três fatores simples que motivaram o padre Henrique José da Rocha Coimbra, da Paróquia Sagrada Família, localizada no Complexo da Maré, bairro de Nova Holanda - Bonsucesso, a implantar o esporte na própria igreja. Há seis meses ele busca mudar a vida de cerca de 115 pessoas através da atividade física. Até agora, três modalidades de luta foram implantadas: jiu-jitsu, muay thai e tai chi chuan, além da capoeira, uma arte folclórica. 
Na incessante busca de integrar, disciplinar e evangelizar os fiéis da comunidade, o pároco escolheu o esporte, uma de suas atividades favoritas. 
“O esporte dá um sentido na vida, e também pode ser um bom caminho para a iniciação da espiritualidade’’, disse empolgado. 
O próprio pároco nos tempos vagos participa das aulas como forma de incentivo e aproximação dos frequentadores do esporte. Ele afirmou que ser cristão é, acima de tudo, humano e que por isto gosta de estar ativo e junto da comunidade.
Além do padre Henrique, a paróquia conta com o apoio de três lutadores profissionais, que ministram as aulas numa sala de catequese, adaptada improvisadamente. 
O contramestre de capoeira e atleta graduado em jiu-jitsu Cristiano de Souza, de 29 anos, disse que se iniciou na vida eclesial através de um projeto do mesmo feitio na Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, também em Bonsucesso. 
“Comecei no esporte por causa de um projeto paroquiano aos oito anos. Foi uma oportunidade de conhecer a Igreja e o esporte juntos. Então, eu sei a importância deste tipo de trabalho’’, lembrou Cristiano. 
À frente das turmas de capoeira (Maré de Bambas) e jiu-jitsu (equipe Alan Moraes) na paróquia, Cristiano conta com uma média de 65 alunos, muitos deles atraídos por meio de apresentações da arte dentro da própria comunidade. A turma da capoeira mantém as rodas de jogo nas ruas, a fim de mostrar o trabalho para familiares e curiosos. A de jiu-jitsu não pode fazer o mesmo, mas já soma seis medalhistas de ouro em campeonatos cariocas de luta.

Fazendo a diferença
Durante as aulas, Cristiano consegue perceber de diversas maneiras a diferença que a prática das lutas vem fazendo na vida dos jovens e, principalmente, das crianças. 
Além de ensinar, é necessário se dispor também a ouvir, compreender e educar. Ele relata um caso comum em meio ao dia a dia.
“Uma vez um menino de sete anos foi para a aula agitado, estava inquieto. Perguntei o motivo daquilo: ele disse estar estressado e apenas com o almoço no estômago. Entendi tudo. O levei para fazer um lanche e, aos poucos, fui compreendendo aquele universo. Assim tento fazer com todos, se não eu seria só mais um a julgar e repreender a vida destes pequenos’’. 

Tirando o foco das drogas
Além da carência de atenção, há também outra questão pertinente: as drogas. Os índices de tráfico e crime são muito altos no Complexo da Maré. Os atendidos vivem diariamente neste meio, presenciam e sabem como tudo acontece. Um dos principais focos da implantação das atividades é desviar a atenção dos jovens deste ciclo vicioso e desconstruir a ideia de que a única maneira de ganhar a vida fácil é através da ilegalidade. Tudo é conversado dentro de sala, de forma bem leve. 
“Às vezes jogo umas ideias destas e, no final das aulas, sempre dou umas palavras de incentivo. É uma tentativa de evangelizar e, com isto, já estou vendo vários alunos meus na missa de domingo’’, contou Francisco de Paula, de 30 anos, professor graduado pela Liga Carioca de Muay Thai. Ele dispensa seu trabalho no meio esportista somente à Igreja, e recusou convite para dar aulas numa conceituada academia do Rio de Janeiro para que pudesse formar a turma Milithai, na Maré. ‘’Sempre quis servir a Igreja com o que eu sei’’, diz. Segundo Francisco, a Maré precisa muito mais deste tipo de trabalho, pois antes só havia um em toda área. Atualmente, alunos do projeto já existente migraram em peso para a paróquia, justamente por conta do acolhimento que os é dado. 

Inclusão
Apesar de se tratar de luta, as aulas contam com homens e mulheres. Todos são bem-vindos. 
Na turma de jiu-jitsu há três crianças autistas. A mãe de um deles foi até o professor Cristiano agradecer pela notável melhora na concentração do menino. A mesma turma conta com vários alunos que não têm condições financeiras de sequer comprar o quimono, uniforme estritamente necessário para a prática. Por isto, a coordenação reverte 100% da taxa de mensalidade dos alunos (R$ 20) a favor deles mesmos, comprando, aos poucos, uniformes para os que não têm e alguns equipamentos essenciais. Porém, não é o total suficiente. 

Serviço
Quem quiser colaborar com a manutenção das atividades esportivas na paróquia, seja doando um uniforme, um equipamento ou qualquer quantia em dinheiro, faça isto. Tudo será inteiramente revertido ao trabalho.
Entre em contato com a secretaria da Paróquia Sagrada Família e saiba como contribuir. Telefones: 3105-0599 ou 3866-8539 - E-mail: par.sagradafamilia@gmail.com.

Fotos: João Pedro Pereira





Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/4773/paroquia-sagrada-familia-uma-mare-de-inclusao-e-amor

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