HOMILIA
DO PAPA FRANCISCO
«Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35).
Queridos adolescentes, que grande
responsabilidade nos confia hoje o Senhor! Diz-nos que as pessoas reconhecerão
os discípulos de Jesus pelo modo como se amam entre si. Por outras palavras, o
amor é o bilhete de identidade do cristão, é o único «documento» válido para
sermos reconhecidos como discípulos de Jesus. O único documento válido. Se este
documento perde a validade e não se volta a renová-lo, deixamos de ser
testemunhas do Mestre. Por isso vos pergunto: Quereis acolher o convite de
Jesus para ser seus discípulos? Quereis ser seus amigos fiéis? O verdadeiro
amigo de Jesus distingue-se essencialmente pelo amor concreto; não um amor
«nas nuvens», não; o amor concreto que brilha na sua vida. O amor é sempre
concreto. Quem não é concreto e fala de amor, faz uma telenovela, um romance
televisivo. Quereis viver este amor que Ele nos dá? Quereis ou não? Procuremos
então frequentar a sua escola, que é uma escola de vida, para
aprender a amar. E este é um trabalho de todos os dias: aprender a amar.
Antes de mais nada, amar é belo, é
o caminho para sermos felizes. Mas não é fácil: é exigente, requer esforço.
Pensemos, por exemplo, quando recebemos um presente: isto torna-nos felizes;
mas, para preparar aquele presente, houve pessoas generosas que dedicaram tempo
e esforço; e, assim, dando-nos algo de presente, deram-nos também um pouco de
si mesmas, algo de que souberam privar-se. Pensemos também na prenda que vos
deram os vossos pais e animadores, permitindo-vos vir a Roma para este Jubileu
que vos é consagrado. Projetaram, organizaram, prepararam tudo para vós: e isto
dava-lhes alegria, embora tenham talvez renunciado a uma viagem para eles. Esta
é a dimensão concreta do amor. De facto, amar quer dizer dar... e não
só coisas materiais, mas algo de nós mesmos: o próprio tempo, a própria
amizade, as próprias capacidades.
Olhemos para o Senhor, que é imbatível em
generosidade. D'Ele recebemos tantos dons, e todos os dias deveremos
agradecer-Lhe... Gostava de vos perguntar: Agradeceis ao Senhor todos os dias?
Mesmo que nos esqueçamos, Ele não Se esquece de nos oferecer cada dia um dom
especial; não se trata de um presente que se possa ter materialmente nas mãos e
usar, mas de um dom maior, um dom para a vida. Que nos oferece o Senhor?
Oferece-nos uma amizade fiel, dom de que nunca nos privará. O Senhor
é o amigo para sempre. Mesmo se O dececionas e te afastas d'Ele, Jesus continua
a amar-te e a permanecer junto de ti, continua a crer em ti mais de quanto crês
tu em ti próprio. Esta é a dimensão concreta do amor que Jesus nos ensina. E
isto é muito importante! Pois a principal ameaça, que impede de crescer como se
deve, é ninguém se importar de ti – e isto é triste -, é quando sentes que te
deixam de lado. Ao contrário, o Senhor está sempre contigo e sente-Se contente
em estar contigo. Como fez com os seus jovens discípulos, fixa-te nos olhos e
chama-te para O seguir, «fazer-te ao largo» e «lançar as redes» confiado na sua
palavra, ou seja, a pôr a render os teus talentos na vida, juntamente com Ele,
sem medo. Jesus espera pacientemente por ti, aguarda uma resposta, espera o teu
«sim».
Queridos adolescentes, na vossa idade, surge
também em vós, de modo novo, o desejo de vos afeiçoardes e de receberdes afeto.
Se fordes assíduos à escola do Senhor, Ele ensinar-vos-á a tornar mais belos
também o afeto e a ternura. Colocar-vos-á no coração um intuito bom: querer
bem sem me apoderar, amar as pessoas sem querer possuí-las, mas
deixando-as livres. Pois o amor é livre! Não existe verdadeiro amor que não
seja livre! É a liberdade que nos deixa o Senhor, quando nos ama. Ele sempre
está perto de nós. De facto, existe sempre a tentação de poluir o afeto com a
pretensão instintiva de agarrar, «possuir» aquilo de que se gosta; e isto é
egoísmo. A própria cultura consumista agrava esta tendência. Mas, se se aperta
muito uma coisa, esta mirra-se, estraga-se: depois fica-se dececionado, com o
vazio dentro. Se ouvirdes a voz do Senhor, revelar-vos-á o segredo da ternura: cuidar da
outra pessoa, o que significa respeitá-la, protegê-la e esperar por ela. E essa
é a dimensão concreta da ternura e do amor.
Nestes anos de juventude, sentis também um
grande desejo de liberdade. Muitos dir-vos-ão que ser livre significa
fazer aquilo que se quer. Mas a isto é preciso saber dizer não. Se tu não sabes
dizer não, não és livre. Livre é aquele que sabe dizer sim e sabe dizer não. A
liberdade não é poder fazer sempre aquilo que me apetece: isto torna-nos
fechados, distantes, impede-nos de ser amigos abertos e sinceros; não é verdade
que, quando eu estou bem, tudo está bem. Não, não é verdade. Ao contrário, a
liberdade é o dom de poder escolher o bem: esta é a liberdade. E é
livre quem escolhe o bem, quem procura aquilo que agrada a Deus, ainda que
custe; não é fácil. Mas penso que vós, jovens, não tendes medo dos esforços,
sois corajosos! Só com opções corajosas e fortes é que se realizam os sonhos
maiores, os sonhos pelos quais vale a pena gastar a vida. Opções corajosas e
fortes. Não vos contenteis com a mediocridade, com «deixar correr» ficando
cómodos e sentados; não vos fieis de quem vos distrai da verdadeira riqueza que
sois vós, dizendo que a vida só é bela se se possuir muitas coisas;
desconfiai de quem quer fazer-vos crer que valeis quando vos mascarais de
fortes, como os heróis dos filmes, ou quando vestis pela última moda. A vossa
felicidade não tem preço, nem se comercializa; não é uma "app" que
se descarrega do telemóvel: nem a versão mais atualizada vos poderá ajudar a
tornar-vos livres e grandes no amor. A liberdade é outra coisa.
Com efeito, o amor é o dom livre de
quem tem o coração aberto; o amor é uma responsabilidade, mas uma
responsabilidade maravilhosa, que dura toda a vida; é o compromisso
diário de quem sabe realizar grandes sonhos. Ai dos jovens que não sabem
sonhar, que não ousam sonhar! Se um jovem, na vossa idade, não é capaz de
sonhar, já se aposentou, não serve. O amor nutre-se de confiança, respeito,
perdão. O amor não se realiza falando dele, mas quando o vivemos: não é uma
poesia suave que se aprende de memória, mas uma opção de vida a pôr em prática!
Como podemos crescer no amor? Também nisto o segredo é o Senhor: Jesus
dá-Se-nos a Si mesmo na Missa, oferece-nos o perdão e a paz na Confissão. Aí
aprendemos a acolher o seu Amor, a assumi-lo, a repô-lo em circulação no mundo.
E quando parece exigente amar, quando é difícil dizer não àquilo que é errado,
erguei os olhos para a cruz de Jesus, abraçai-a e não largueis a sua mão que
vos conduz para o alto e vos levanta quando caís. Na vida, sempre se cai,
porque somos pecadores, somos fracos. Mas temos a mão de Jesus que nos ergue,
que nos levanta. Jesus quer-nos de pé! Aquela bela palavra que Jesus dizia aos
paralíticos: «Levanta-te». Deus criou-nos para estarmos de pé. Existe uma bela
canção que os alpinos cantam quando sobem. A canção diz assim: «na arte de
subir, importante não é o não cair, mas o não permanecer caído»! Ter a coragem
de levantar-se, de nos deixarmos reerguer pela mão de Jesus. E esta mão muitas
vezes chega até nós pela mão de um amigo, pela mão dos pais, pela mão daqueles
que nos acompanham na vida. O próprio Jesus em pessoa está ali. Levantai-vos!
Deus quer-nos de pé, sempre de pé!
Sei que sois capazes de gestos de grande
amizade e bondade. Sois chamados a construir o futuro assim: juntamente com
os outros e para os outros, jamais contra outro qualquer! Não se
constrói «contra»: isto chama-se destruição. Fareis coisas maravilhosas, se vos
preparardes bem já desde agora, vivendo plenamente esta vossa idade tão rica de
dons, e sem ter medo do esforço. Fazei como os campeões desportivos, que
alcançam altas metas treinando-se, humilde e duramente, todos os dias. O vosso
programa diário sejam as obras de misericórdia: treinai-vos com entusiasmo
nelas, para vos tornardes campeões de vida, campeões de amor! Assim
sereis reconhecidos como discípulos de Jesus. Assim tereis o bilhete de
identidade de cristãos. E garanto-vos: a vossa alegria será completa.
Fonte:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2016/documents/papa-francesco_20160424_omelia-giubileo-ragazzi.html
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