quarta-feira, 15 de junho de 2016

A santidade em tempos de violência: Beata Albertina Berckenbrock

Em tempos de inúmeros e dramáticos fatos ocorridos em nosso Rio de Janeiro, especialmente o caso de estupro coletivo que virou manchete nacional e internacional, causando comoção e indignação na opinião pública e levando assim a calorosas discussões sobre a questão da violência contra a mulher; Diante de toda a crise que estamos vivendo, sobretudo em nosso estado, e que foi muito bem apresentada pelo nosso arcebispo Cardeal Orani João Tempesta em carta assinada e publicada também por todos os bispos do Regional Leste 1, lida em todas as paróquias no último mês de maio, e do comovente encontro de nosso pastor com as mães que perderam seus filhos assassinados, vítimas da cruel violência.

Encontro com postuladores
Em tempos de tantos desafios que se apresentam para nós, Igreja no Brasil, nesta Cidade Olímpica, para onde o mundo inteiro olhará no próximo mês de agosto, realizamos aqui no Sumaré, dos dias 30 de maio a 2 de junho a quarta edição do Encontro Nacional de Postuladores para as Causas dos Santos no Brasil, da postulação de Paolo Villota e assessoria do padre Paolo Lombardo, oficiais da Congregação das Causa dos Santos, em Roma. Um encontro conectado com todos os desafios apresentados acima e muito frutuoso, fraterno, norteador para os diversos processos em andamento em nosso país. Não estando à margem da vida nem da realidade, esse momento foi para cada um de nós motivo de preocupação, de oração e circunstância para mais uma vez apresentarmos a todos, modelos de fé e de vida, que se Deus quiser, serão os futuros santos de nossa Igreja, que acolhe e atende, intensamente, o apelo de nosso saudoso Papa São João Paulo II, que em 1991 nos exortou: “O Brasil precisa de santos!”.

A história de Albertina
Nosso povo brasileiro, sempre religioso e solidário, sempre viu nas devoções aos santos um pilar de sua fé e já traz em seu perfil um catolicismo popular e que divulga a fama de santidade de todos os que se destacaram em vida diante de virtudes heróicas expressivas e edificantes. Por isso, trazemos nesse jornal, para conhecimento de nossas comunidades, a vida e o exemplo de uma jovem, Albertina Berkenbrock, que nasceu no dia 11 de abril de 1919, na comunidade de São Luís, Paróquia São Sebastião de Vargem do Cedro, município de Imaruí, Estado de Santa Catarina.

Mártir da pureza
Filha de um casal de agricultores, Henrique e Josefina Berkenbrock, teve mais oito irmãos e irmãs. Aos 12 anos de idade, no dia 15 de junho de 1931, Albertina foi assassinada porque quis preservar a sua pureza espiritual e corporal e foi, a exemplo da santa italiana Maria Goreti, considerada uma mártir não apenas da pureza e da castidade, mas da dignidade feminina, por defender sua honra, sua virgindade, um direito de toda a mulher. Defender sua integridade física, psicológica e moral, por causa da fé e da fidelidade a Deus é direito de toda pessoa humana assim como se entregar na defesa desse direito é salutar e importante hoje em dia. E ela assim o fez, heroicamente, como verdadeira mártir. O martírio e a consequente fama de santidade espalharam-se rapidamente de maneira clara e convincente. Afinal, ela foi uma menina de grande sensibilidade para com Deus e para com o próximo.

Grandeza de coração
Isso se depreende, com nitidez, de sua vida, vivida na simplicidade dos seus tenros anos. Seus pais e familiares souberam educá-la na fé, no amor e na esperança, as virtudes teologais da religião cristã. Transmitiram-lhe, pela vida e pelo ensinamento, todas as verdades reveladas na Sagrada Escritura. Buscando em Deus inspiração e força para viver, participou ativamente da vida religiosa em todos os seus aspectos. Quando chegou o tempo da catequese preparatória para os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, Albertina chamou a atenção pela forma como se preparou: com muita diligência e grandeza de coração. A “primeira confissão” tornou-se porta aberta para se confessar frequentemente, e a “primeira comunhão” foi uma experiência única, a tal ponto que ela própria afirmou: “Foi o dia mais belo de minha vida!”. A partir de então, não deixou mais de participar da Eucaristia, tornando esse sacramento “fonte e cume de sua vida cristã”. Gostava de falar, na sua forma simples de expressar-se, do mistério eucarístico como experiência do amor de Deus, compreendendo que a Eucaristia é o memorial da morte e ressurreição de Jesus, ato supremo do amor redentor. Ela cultivou uma devoção muito filial a Nossa Senhora, venerando-a com carinho, tanto em casa como na capela da comunidade. Participou, com intensidade, da oração do rosário junto com os familiares. Na simplicidade de coração, recomendou, seguidamente, a Maria - Mãe de Jesus e Mãe da Igreja - a sua alma e a sua salvação eterna.

Vida cristã
Teve uma obediência responsável; foi incansável nas atividades de trabalho e estudo; teve espírito de sacrifício; soube ter paciência, confiança e coragem. Essas virtudes humanas foram visíveis na convivência em casa, pois sempre ajudou seus pais e irmãos; foram visíveis na comunidade, uma vez que sempre amou todas as pessoas, o que a tornou muito admirada; foram visíveis na escola, tendo em vista que sempre se aplicou aos estudos, sempre esteve ao lado dos colegas mais necessitados de ajuda e jamais revidou ataques de menosprezo dirigidos a ela. Gostava de fazer cruzinhas de madeira; colocava-as em pequenas sepulturas, adornava-as com flores. Mesmo quando os irmãos a mortificavam, às vezes até lhe batiam, sofria em silêncio, unindo-se aos sofrimentos de Jesus que amava sinceramente. Seu professor a elogiava por suas condições espirituais e morais superiores à sua idade, que a distinguiam entre os colegas de escola. Aprendeu bem o catecismo, conheceu os mandamentos de Deus e seu significado, sua caridade era grande e gostava de acompanhar as meninas mais pobres, de jogar com elas e dividir o pão que trazia de casa para comer no intervalo das aulas.

Beata
Albertina foi beatificada em solene celebração eucarística no dia 20 de outubro de 2007 em frente à Catedral Diocesana de Tubarão. Presidiu a cerimônia o Cardeal José Saraiva Martins, na época, prefeito para a Causa dos Santos. Beata Albertina, rogai por todos nós, especialmente por todas as jovens e mulheres de nosso Rio de Janeiro.


Dom Roberto Lopes, O.S.B.
Delegado Arquiepiscopal para as Causas dos Santos do Rio de Janeiro


Fonte: Jornal Testemunho de Fé, página 17

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