segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A serviço do altar

Coroinhas da Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte, na Ilha de Paquetá

Ser cerimoniário do arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, não foi uma escolha, mas uma atribuição conferida ao padre Márcio Luiz da Costa, quando este ainda cursava o primeiro ano de Teologia no Seminário São José; e ele a cumpre com dedicação há cinco anos.
O tempo de serviço teria validade até 2012, quando receberia, então, o diaconato. Mas, devido à Jornada Mundial da Juventude no Brasil, em 2013, Dom Orani pediu que continuasse mais um pouco, pois já estava integrado à função.
Hoje, sacerdote e vigário paroquial na Paróquia São Brás, em Madureira, padre Márcio continua acompanhando o arcebispo nas missas do Rio Celebra, em celebrações oficiais da arquidiocese e solenes na Catedral Metropolitana.
Nesta entrevista, padre Márcio comenta sobre a identidade e as características da função de cerimoniário e coroinha. O sacerdote também discorreu sobre a melhor forma de promover a formação de coroinhas nas paróquias.

Portal - Qual a diferença entre o coroinha e o cerimoniário?
Padre Márcio – A responsabilidade do cerimoniário é organizar a celebração. Ele tem que estar atento a tudo, como com os leitores, se a credência está arrumada corretamente, se as músicas condizem com a liturgia diária, se está tudo certo com os paramentos do presidente da celebração. O cerimoniário é aquele que toma conta de tudo um pouco.
Já o coroinha cumpre funções especificas, como se responsabilizar pelo turíbulo, pelo missal, ou quando a missa é presidida por um bispo, ficar atento à mitra e ao báculo. Mas a grande diferença é que o cerimoniário se preocupa com o todo da celebração, e o coroinha com partes específicas. Cada um fazendo bem a sua parte, a celebração transcorre de modo harmônico.

Portal – Qual a principal característica de um cerimoniário?
Padre Márcio – Duas coisas são fundamentais no serviço ao altar: humildade e fidelidade. Humildade para perceber que o cerimoniário não é um “doutor” em liturgia, nem mesmo um sabe-tudo, mas alguém que está ali para ajudar, para que a celebração ocorra de modo digno e harmonioso. O cerimoniário precisa ser humilde, para que saiba acolher sugestões, dialogar, propor ao invés de impor.
A fidelidade também é importante, pois ele deve ser fiel à Igreja, a sua doutrina e, principalmente, a Deus. A fidelidade que digo é no sentido mais amplo da palavra: ser obediente ao pároco, nunca contrariá-lo.
Agora, tecnicamente, o cerimoniário precisa ser uma pessoa organizada e que cumpra os horários, além de ter conhecimento dos aspectos da missa.

Portal – Leigos podem ser cerimoniários? Há alguma condição?
Padre Márcio – Podem, é claro. É muito comum nas paróquias que os coroinhas com mais idade se tornem cerimoniários, caso o pároco os julgue aptos ao serviço. A única condição é que o cerimoniário tenha um pouco mais idade, pois precisam de mais maturidade e responsabilidade. Em minha paróquia, por exemplo, há cerimoniários com 18 e 19 anos. Já os coroinhas são normalmente mais novos; depois da primeira Eucaristia, eles querem servir ao altar.

Portal – O que o senhor acha da questão de meninas servirem como coroinhas e cerimoniárias?
Padre Márcio – O serviço de coroinhas e cerimoniários, na história da Igreja, foi sempre destinado aos meninos. Depois do Concílio Vaticano II, em 1965, foi havendo uma abertura para as meninas poderem ajudar também. Mas tudo isso acontece de uma forma lenta.
Por enquanto, aqui na Arquidiocese do Rio, as coisas estão caminhando no nível paroquial. Em algumas comunidades, já há meninas cerimoniárias. Ninguém vai proibir, mas é uma questão nova para a Igreja que, aos poucos, está se habituando.
Só agora nos acostumamos com meninas coroinhas, mas algumas pessoas mais antigas ainda estranham, principalmente em paróquias mais tradicionais. Não existe nenhuma proibição, nem regra que diga que coroinhas e cerimoniários só podem ser meninos, porém trabalhamos com o que sempre foi tradição da Igreja.
Outra questão é que o cerimoniário tem um contato maior com o sacerdote, e por isso, o sacerdote pode ficar meio desconfortável. O cerimoniário, muitas vezes, ajuda-o a se vestir, por exemplo. Então, a nível diocesano, a arquidiocese ainda não institucionalizou o serviço de cerimoniárias, mas nada impede que as paróquias o façam, para sentimos como será a experiência.

Portal – Durante a missa, até que ponto um cerimoniário pode intervir nas decisões do padre, que é o presidente da celebração?
Padre Márcio – Entramos na questão primeira: humildade. Isso é muito importante para um cerimoniário. Ele pode até ter boa intenção em seguir o que orienta o missal, mas, em primeiro lugar, deve estar em concordância com o presidente da celebração.
O cerimoniário propõe o que acredita ser correto. Mas o padre, em última instância, é a autoridade maior da missa, e se ele acha que pular, ou fazer de maneira diferente, uma parte da celebração não fere a índole desta, o cerimoniário, por humildade e fidelidade, deve ser obediente.

Portal – Qual o senhor considera a formação ideal para os coroinhas nas paróquias?
Padre Márcio – Eu acho que a formação hoje não deve priorizar apenas as questões técnicas, de formação litúrgica, mas aproveitar que esses jovens estão conosco, na Igreja, para também promover uma formação humana e espiritual.
Nos momentos de formação, deve-se dividir o tempo em formação litúrgica e em formação espiritual, por exemplo, falando sobre a vida de um padre ou santo, ou abordar algum assunto que esteja na mídia, orientar, explicar. A formação deve ser integral, devemos abordar realidades de dentro e fora da Igreja.
Outra coisa: além da formação, é importante criar momentos de lazer, o que, às vezes, falta muito nas paróquias. Levá-los para uma convivência, um momento mais lúdico. Por exemplo, reservar um dia para, na parte da manhã, ter a formação e, na parte da tarde, a prática de alguma atividade esportiva ou de lazer.
Isso é importante para fomentar um sentido de comunidade. O grupo não ser apenas jovens que se reúnem para servir, mas que vivam como irmãos. É a cultura do encontro que o Papa Francisco nos propõe: fazer da Igreja nossa casa, ou seja, família.
Às vezes, percebo que há coroinhas com realidades familiares tão complicadas, e que estão na igreja para viver momentos de fraternidade, que sirvam para o amadurecimento deles.

Portal – Como o senhor avalia a interação da Arquidiocese do Rio com os coroinhas e cerimoniários?
Padre Márcio – Eu acho que o trabalho está sendo muito bem conduzido, tanto com o auxílio do bispo animador, Dom Roque Costa Souza, quanto a orientação do coordenador arquidiocesano, padre Robert Jósef Chrzaszcz, que tem-se esforçado bastante na formação e acompanhamento das equipes. Andamos um tempo meio distante, mas consertamos isso. Por exemplo, ficamos um tempo sem promover o encontro anual, e agora isso foi retomado. Ainda há muito o que fazer.

Foto: Carlos Moioli

Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/3804/a-servico-do-altar

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