Coroinhas
da Paróquia Senhor Bom Jesus do Monte, na Ilha de Paquetá
Ser cerimoniário do arcebispo do Rio, Dom
Orani João Tempesta, não foi uma escolha, mas uma atribuição conferida ao padre
Márcio Luiz da Costa, quando este ainda cursava o primeiro ano de Teologia no
Seminário São José; e ele a cumpre com dedicação há cinco anos.
O tempo de serviço teria validade até 2012,
quando receberia, então, o diaconato. Mas, devido à Jornada Mundial da
Juventude no Brasil, em 2013, Dom Orani pediu que continuasse mais um pouco,
pois já estava integrado à função.
Hoje, sacerdote e vigário paroquial na
Paróquia São Brás, em Madureira, padre Márcio continua acompanhando o arcebispo
nas missas do Rio Celebra, em celebrações oficiais da arquidiocese e solenes na
Catedral Metropolitana.
Nesta entrevista, padre Márcio comenta sobre
a identidade e as características da função de cerimoniário e coroinha. O
sacerdote também discorreu sobre a melhor forma de promover a formação de
coroinhas nas paróquias.
Portal - Qual a diferença
entre o coroinha e o cerimoniário?
Padre
Márcio – A responsabilidade do cerimoniário é organizar a
celebração. Ele tem que estar atento a tudo, como com os leitores, se a
credência está arrumada corretamente, se as músicas condizem com a liturgia
diária, se está tudo certo com os paramentos do presidente da celebração. O
cerimoniário é aquele que toma conta de tudo um pouco.
Já o coroinha cumpre funções especificas,
como se responsabilizar pelo turíbulo, pelo missal, ou quando a missa é
presidida por um bispo, ficar atento à mitra e ao báculo. Mas a grande diferença
é que o cerimoniário se preocupa com o todo da celebração, e o coroinha com
partes específicas. Cada um fazendo bem a sua parte, a celebração transcorre de
modo harmônico.
Portal – Qual a principal
característica de um cerimoniário?
Padre
Márcio – Duas coisas são fundamentais no serviço ao altar:
humildade e fidelidade. Humildade para perceber que o cerimoniário não é um
“doutor” em liturgia, nem mesmo um sabe-tudo, mas alguém que está ali para
ajudar, para que a celebração ocorra de modo digno e harmonioso. O cerimoniário
precisa ser humilde, para que saiba acolher sugestões, dialogar, propor ao
invés de impor.
A fidelidade também é importante, pois ele
deve ser fiel à Igreja, a sua doutrina e, principalmente, a Deus. A fidelidade
que digo é no sentido mais amplo da palavra: ser obediente ao pároco, nunca
contrariá-lo.
Agora, tecnicamente, o cerimoniário precisa
ser uma pessoa organizada e que cumpra os horários, além de ter conhecimento
dos aspectos da missa.
Portal – Leigos podem ser
cerimoniários? Há alguma condição?
Padre
Márcio – Podem, é claro. É muito comum nas paróquias que
os coroinhas com mais idade se tornem cerimoniários, caso o pároco os julgue
aptos ao serviço. A única condição é que o cerimoniário tenha um pouco mais
idade, pois precisam de mais maturidade e responsabilidade. Em minha paróquia,
por exemplo, há cerimoniários com 18 e 19 anos. Já os coroinhas são normalmente
mais novos; depois da primeira Eucaristia, eles querem servir ao altar.
Portal – O que o senhor acha
da questão de meninas servirem como coroinhas e cerimoniárias?
Padre
Márcio – O serviço de coroinhas e cerimoniários, na
história da Igreja, foi sempre destinado aos meninos. Depois do Concílio
Vaticano II, em 1965, foi havendo uma abertura para as meninas poderem ajudar
também. Mas tudo isso acontece de uma forma lenta.
Por enquanto, aqui na Arquidiocese do Rio, as
coisas estão caminhando no nível paroquial. Em algumas comunidades, já há
meninas cerimoniárias. Ninguém vai proibir, mas é uma questão nova para a
Igreja que, aos poucos, está se habituando.
Só agora nos acostumamos com meninas
coroinhas, mas algumas pessoas mais antigas ainda estranham, principalmente em
paróquias mais tradicionais. Não existe nenhuma proibição, nem regra que diga
que coroinhas e cerimoniários só podem ser meninos, porém trabalhamos com o que
sempre foi tradição da Igreja.
Outra questão é que o cerimoniário tem um
contato maior com o sacerdote, e por isso, o sacerdote pode ficar meio
desconfortável. O cerimoniário, muitas vezes, ajuda-o a se vestir, por exemplo.
Então, a nível diocesano, a arquidiocese ainda não institucionalizou o serviço
de cerimoniárias, mas nada impede que as paróquias o façam, para sentimos como
será a experiência.
Portal – Durante a missa,
até que ponto um cerimoniário pode intervir nas decisões do padre, que é o
presidente da celebração?
Padre
Márcio – Entramos na questão primeira: humildade. Isso é
muito importante para um cerimoniário. Ele pode até ter boa intenção em seguir
o que orienta o missal, mas, em primeiro lugar, deve estar em concordância com
o presidente da celebração.
O cerimoniário propõe o que acredita ser
correto. Mas o padre, em última instância, é a autoridade maior da missa, e se
ele acha que pular, ou fazer de maneira diferente, uma parte da celebração não
fere a índole desta, o cerimoniário, por humildade e fidelidade, deve ser obediente.
Portal – Qual o senhor
considera a formação ideal para os coroinhas nas paróquias?
Padre
Márcio – Eu acho que a formação hoje não deve priorizar
apenas as questões técnicas, de formação litúrgica, mas aproveitar que esses
jovens estão conosco, na Igreja, para também promover uma formação humana e
espiritual.
Nos momentos de formação, deve-se dividir o
tempo em formação litúrgica e em formação espiritual, por exemplo, falando
sobre a vida de um padre ou santo, ou abordar algum assunto que esteja na mídia,
orientar, explicar. A formação deve ser integral, devemos abordar realidades de
dentro e fora da Igreja.
Outra coisa: além da formação, é importante
criar momentos de lazer, o que, às vezes, falta muito nas paróquias. Levá-los
para uma convivência, um momento mais lúdico. Por exemplo, reservar um dia
para, na parte da manhã, ter a formação e, na parte da tarde, a prática de
alguma atividade esportiva ou de lazer.
Isso é importante para fomentar um sentido de
comunidade. O grupo não ser apenas jovens que se reúnem para servir, mas que
vivam como irmãos. É a cultura do encontro que o Papa Francisco nos propõe:
fazer da Igreja nossa casa, ou seja, família.
Às vezes, percebo que há coroinhas com
realidades familiares tão complicadas, e que estão na igreja para viver
momentos de fraternidade, que sirvam para o amadurecimento deles.
Portal – Como o senhor
avalia a interação da Arquidiocese do Rio com os coroinhas e cerimoniários?
Padre
Márcio – Eu acho que o trabalho está sendo muito bem
conduzido, tanto com o auxílio do bispo animador, Dom Roque Costa Souza, quanto
a orientação do coordenador arquidiocesano, padre Robert Jósef Chrzaszcz, que
tem-se esforçado bastante na formação e acompanhamento das equipes. Andamos um
tempo meio distante, mas consertamos isso. Por exemplo, ficamos um tempo sem
promover o encontro anual, e agora isso foi retomado. Ainda há muito o que
fazer.
Foto:
Carlos Moioli
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/3804/a-servico-do-altar
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