terça-feira, 19 de agosto de 2014

Filhos: o futuro

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro

            Nesta Semana Nacional da Família, em que a espiritualidade se coloca como imperativo para que se possa ser sinal de tempos novos neste mundo e a família cristã seja uma proposta feliz para a sociedade, é bom refletir a beleza e a importância dos filhos e a busca de educá-los como cristãos.
            A vida humana tem três grandes estágios: o primeiro estágio é no útero da mãe, o segundo estágio é a vida humana neste mundo e o terceiro estágio é a vida eterna. Os três estágios estão intrinsecamente ligados entre si. A biologia esclarece que o embrião humano já dispõe de um sistema imunológico e patrimônio genético próprio. Este ser humano possui o direito de ser respeitado na sua integridade e dignidade como a de qualquer pessoa já nascida. O Dia do Nascituro nos lembra que os filhos são dons preciosos de Deus e que a geração de filhos é uma das finalidades do matrimônio. O filho é reflexo vivo do amor e sinal permanente da unidade conjugal. Na verdade os filhos são testemunhas vivas do encontro amoroso do casal e profetas de um mundo que se renova na continuidade da vida e da obra criadora de Deus.
            As crianças são sinais de que Deus não perdeu a esperança na humanidade. As crianças, além de serem os artífices do futuro, são continuidades da vida dos pais e de toda a humanidade. Portanto, elas são as grandes motivações das famílias. A Igreja louva e glorifica a Deus, e se encanta com os avanços e as maravilhas das conquistas científicas. Entretanto, o que a Igreja espera é que todas as buscas do homem, no campo científico, sejam feitas à luz da ética da vida, do respeito pela sacralidade e inviolabilidade da vida humana. A bioética, uma ciência relativamente nova, desencadeou no mundo, sobretudo na comunidade cientifica, um processo de reflexão sobre os limites e balizamentos éticos da ciência.
            A bioética, de cunho personalista, que é a corrente adotada pela Igreja, tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida humana. É uma nova disciplina que combina o conhecimento biológico (científico) com o conhecimento dos valores humanos. Podemos afirmar: uma “ponte” entre duas culturas: a científica e a humanística. E o princípio fundamental da bioética personalista é o princípio da defesa da vida física como valor fundamental, o qual ressalta a sacralidade e a inviolabilidade da vida humana.

            O respeito pela vida, a sua defesa e a sua promoção representam o primeiro imperativo ético do homem diante de si mesmo e dos outros. É muito oportuno ouvir as palavras do apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este mundo” (Rom.12,2). A Igreja não deve concordar com tudo o que hoje se sustenta em nome do cientificismo.  Somos a Igreja do “Sim”. Sim, ao direito de nascer e viver com dignidade! Sim, ao direito de ser original e irrepetível! Sim à vida de todos, em todas as suas formas e manifestações! Sim às pesquisas levadas adiante com seriedade e serenidade, sem sensacionalismo e vãs promessas! Sim à pesquisa com células adultas (não embriões!), visando à terapia e respeitando as normas éticas! Sim aos empenhos da ciência por minorar os sofrimentos, inclusive de doenças de cunho genético, mas sem esconder o mistério do sofrimento e da cruz como caminhos de crescimento humano! Sim às infinitas manifestações dos milagres da vida! Sim para que os pais não se fechem a gerarem filhos para que a humanidade tenha continuidade!
            Recordo também das palavras de Madre Tereza de Calcutá: “Se aceitamos que uma mãe pode matar sua criança, como podemos dizer para outras pessoas que não matem uns aos outros?”. Pensei muito nisso quando vemos nos noticiários quantas crianças mortas nos combates violentos. E, outro pensamento de Santa Gianna Beretta Molla (Itália): “Entre a minha vida e do meu filho, salvem a criança”. Por isso, amemos a vida e digamos: “Não ao aborto!”. A humanidade já está pagando muito caro pela opção de não respeitar a vida! Além do envelhecimento do Ocidente, a falta de respeito à vida em todas as demais circunstâncias, longe e perto de nós. E para que a vida seja protegida, necessitamos da família, que é a base e protetora da vida humana, e, também, fonte de paz, alegria, felicidade e serenidade pessoal.
            Disse ainda o Papa São João Paulo II: “A tarefa fundamental da família é o serviço à vida. É realizar, na história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração de homem a homem. Fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena doação recíproca dos esposos” (“Familiaris Consortio”, 28).
            Todos esses ensinamentos nos levam ao que a Igreja afirma constantemente: “O amor conjugal deve ser plenamente humano, exclusivo e aberto à nova vida” (GS,50; HV,11; FC,29). A situação social e cultural dos nossos tempos dificulta a compreensão dessa verdade. A comunicação contrária à vida procura enganar e seduzir a cada momento o povo, que continua firme em valorizar a vida. Vale a pena reler o que disse o Papa São João Paulo II sobre isso:
            “Alguns se perguntam se viver é bom ou se não teria sido melhor nem sequer ter nascido. Outros pensam que são os únicos destinatários da técnica e excluem os demais, impondo-lhes meios contraceptivos ou técnicas ainda piores. Nasceu, assim, uma mentalidade contra a vida (anti-life mentality), como emerge de muitas questões atuais. Pense-se, por exemplo, num certo pânico derivado dos estudos dos ecólogos e dos futurólogos sobre a demografia, que exageram, às vezes, o perigo do incremento demográfico para a qualidade da vida. Mas a Igreja crê, firmemente, que a vida humana, mesmo se débil e com sofrimento, é sempre um esplêndido dom do Deus da bondade. Contra o pessimismo e o egoísmo que obscurecem o mundo, a Igreja está do lado da vida” (“Familiaris Consórtio”, 30).
            Infelizmente, os pais de hoje se recusam a ter filhos. Eu pergunto: sem filhos, como caminhará a humanidade? Muitos têm medo de não educar bem os filhos, pois eu lhes digo que, com Deus, é possível educá-los. Basta que o casal se ame, crie um lar saudável e viva para os filhos com todas as suas forças e com toda dedicação. Muitas vezes eu me pergunto como meus pais conseguiram nos educar a todos e hoje as coisas aparentam tão difíceis? Serão situações criadas para dificultar ou mentalidades que nos são impostas? E, na criação dos filhos, a educação católica deve ser dada primeiramente pelo testemunho pastoral dos pais e avós. O resto, Deus e eles farão. Faça do seu filho um homem de bem e eduque-o na fé para a santidade.      Depois ele saberá enfrentar o futuro.

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