Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
Nesta
Semana Nacional da Família, em que a espiritualidade se coloca como imperativo
para que se possa ser sinal de tempos novos neste mundo e a família cristã seja
uma proposta feliz para a sociedade, é bom refletir a beleza e a importância
dos filhos e a busca de educá-los como cristãos.
A vida
humana tem três grandes estágios: o primeiro estágio é no útero da mãe, o
segundo estágio é a vida humana neste mundo e o terceiro estágio é a vida
eterna. Os três estágios estão intrinsecamente ligados entre si. A
biologia esclarece que o embrião humano já dispõe de um sistema imunológico e
patrimônio genético próprio. Este ser humano possui o direito de ser respeitado
na sua integridade e dignidade como a de qualquer pessoa já nascida. O Dia do
Nascituro nos lembra que os filhos são dons preciosos de Deus e que a
geração de filhos é uma das finalidades do matrimônio. O filho é reflexo vivo
do amor e sinal permanente da unidade conjugal. Na verdade os filhos são testemunhas
vivas do encontro amoroso do casal e profetas de um mundo que se renova na
continuidade da vida e da obra criadora de Deus.
As crianças
são sinais de que Deus não perdeu a esperança na humanidade. As crianças, além
de serem os artífices do futuro, são continuidades da vida dos pais e de
toda a humanidade. Portanto, elas são as grandes motivações das
famílias. A Igreja louva e glorifica a Deus, e se encanta com os avanços e
as maravilhas das conquistas científicas. Entretanto, o que a Igreja
espera é que todas as buscas do homem, no campo científico, sejam feitas à
luz da ética da vida, do respeito pela sacralidade e inviolabilidade da vida
humana. A bioética, uma ciência relativamente nova, desencadeou no mundo,
sobretudo na comunidade cientifica, um processo de reflexão sobre os limites e
balizamentos éticos da ciência.
A
bioética, de cunho personalista, que é a corrente adotada pela Igreja, tem como
objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre
a vida humana. É uma nova disciplina que combina o conhecimento biológico
(científico) com o conhecimento dos valores humanos. Podemos afirmar: uma
“ponte” entre duas culturas: a científica e a humanística. E o princípio
fundamental da bioética personalista é o princípio da defesa da vida física
como valor fundamental, o qual ressalta a sacralidade e a inviolabilidade da
vida humana.
O respeito
pela vida, a sua defesa e a sua promoção representam o primeiro imperativo
ético do homem diante de si mesmo e dos outros. É muito oportuno ouvir as
palavras do apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este mundo” (Rom.12,2). A
Igreja não deve concordar com tudo o que hoje se sustenta em nome do
cientificismo. Somos a Igreja do “Sim”. Sim, ao direito de nascer e viver
com dignidade! Sim, ao direito de ser original e irrepetível! Sim à vida de
todos, em todas as suas formas e manifestações! Sim às pesquisas levadas
adiante com seriedade e serenidade, sem sensacionalismo e vãs promessas! Sim à
pesquisa com células adultas (não embriões!), visando à terapia e
respeitando as normas éticas! Sim aos empenhos da ciência por minorar os
sofrimentos, inclusive de doenças de cunho genético, mas sem esconder o
mistério do sofrimento e da cruz como caminhos de crescimento humano! Sim às
infinitas manifestações dos milagres da vida! Sim para que os pais não se
fechem a gerarem filhos para que a humanidade tenha continuidade!
Recordo
também das palavras de Madre Tereza de Calcutá: “Se aceitamos que uma mãe pode
matar sua criança, como podemos dizer para outras pessoas que não matem uns aos
outros?”. Pensei muito nisso quando vemos nos noticiários quantas crianças
mortas nos combates violentos. E, outro pensamento de Santa Gianna Beretta
Molla (Itália): “Entre a minha vida e do meu filho, salvem a criança”. Por isso,
amemos a vida e digamos: “Não ao aborto!”. A humanidade já está pagando muito
caro pela opção de não respeitar a vida! Além do envelhecimento do Ocidente, a
falta de respeito à vida em todas as demais circunstâncias, longe e perto de
nós. E para que a vida seja protegida, necessitamos da família, que é a base e
protetora da vida humana, e, também, fonte de paz, alegria, felicidade e
serenidade pessoal.
Disse ainda
o Papa São João Paulo II: “A tarefa fundamental da família é o serviço à vida.
É realizar, na história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem
divina pela geração de homem a homem. Fecundidade é o fruto e o sinal do amor
conjugal, o testemunho vivo da plena doação recíproca dos esposos” (“Familiaris
Consortio”, 28).
Todos esses
ensinamentos nos levam ao que a Igreja afirma constantemente: “O amor conjugal
deve ser plenamente humano, exclusivo e aberto à nova vida” (GS,50; HV,11;
FC,29). A situação social e cultural dos nossos tempos dificulta a compreensão
dessa verdade. A comunicação contrária à vida procura enganar e seduzir a cada
momento o povo, que continua firme em valorizar a vida. Vale a pena reler o que
disse o Papa São João Paulo II sobre isso:
“Alguns se
perguntam se viver é bom ou se não teria sido melhor nem sequer ter nascido.
Outros pensam que são os únicos destinatários da técnica e excluem os demais,
impondo-lhes meios contraceptivos ou técnicas ainda piores. Nasceu, assim, uma
mentalidade contra a vida (anti-life mentality), como emerge de muitas questões
atuais. Pense-se, por exemplo, num certo pânico derivado dos estudos dos
ecólogos e dos futurólogos sobre a demografia, que exageram, às vezes, o perigo
do incremento demográfico para a qualidade da vida. Mas a Igreja crê,
firmemente, que a vida humana, mesmo se débil e com sofrimento, é sempre um
esplêndido dom do Deus da bondade. Contra o pessimismo e o egoísmo que
obscurecem o mundo, a Igreja está do lado da vida” (“Familiaris Consórtio”,
30).
Infelizmente,
os pais de hoje se recusam a ter filhos. Eu pergunto: sem filhos, como
caminhará a humanidade? Muitos têm medo de não educar bem os filhos, pois eu
lhes digo que, com Deus, é possível educá-los. Basta que o casal se ame, crie
um lar saudável e viva para os filhos com todas as suas forças e com toda
dedicação. Muitas vezes eu me pergunto como meus pais conseguiram nos educar a
todos e hoje as coisas aparentam tão difíceis? Serão situações criadas para
dificultar ou mentalidades que nos são impostas? E, na criação dos filhos, a
educação católica deve ser dada primeiramente pelo testemunho pastoral dos pais
e avós. O resto, Deus e eles farão. Faça do seu filho um homem de bem e
eduque-o na fé para a santidade. Depois
ele saberá enfrentar o futuro.
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