terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

“Quem perseverar até o fim...” (Mt 24, 12)



A virtude da perseverança é fundamental, pois sem ela não há vitória. Um atleta que tenha corrido brilhantemente um páreo, mas que, na reta final, fraqueja, perde a medalha. Ora, algo de semelhante se dá no plano espiritual. A importância da virtude da perseverança pode ser demonstrada tanto por razões teológicas, como pelo raciocínio filosófico.

1. Fala o Evangelho
No Evangelho, Jesus recomenda três vezes a perseverança:
Mt 10,22: “Sereis odiados por todos por causa de mim, mas quem perseverar até o fim, será salvo.”
Mt 24, 12: “Quem perseverar até o fim será salvo.”
Mc 8,15: “A semente que cai em terra boa... são aqueles que guardam a Palavra e produzem fruto por sua constância.”

Interessa notar, que neste último texto, os que dão fruto bom, não são os que guardam a caridade (sem mais), mas os que permanecem constantes (na caridade, na fé, na esperança...) até o fim.

A palavra grega traduzida por “perseverança” ou “constância” é hypomoné, que significa “permanecer por baixo”, “suportar”. Imaginemos alguém com as mãos abertas, sobre as quais o Senhor Deus vai depositando os seus fardos, tal pessoa não pode dizer: “Não agüento mais!” sem que se produza um grande desastre. Ninguém percebe o esforço heróico que tal irmão ou irmã realiza; ninguém o aplaude. Talvez até o menosprezem por estar inerte. Por isso, a perseverança pode chegar às raias do heroísmo, ignorado, mas vital para o indivíduo e a comunidade a ele associada. Comparemos entre si a corrida de salto e a corrida de fôlego: a primeira, quanto mais rápida e breve for tanto mais gloriosa e aclamada será; ao contrário, a corrida de fôlego quanto mais prolongada for, destituída de qualquer teatralidade, quanto mais louvável será.

Aí temos um aspecto de nossa vida terrestre: é uma corrida de fôlego ou de longa paciência, na qual damos um passo após outro, na fé, com muito esforço silencioso, para o bem de quantos nos acompanham, sem que estes saibam o quanto nos devem.

O catequista, de modo particular, é importante na sua missão de levar a Palavra de Deus aos corações ainda informes e necessitados de reta orientação para a sua vida: “Os que se vão, vão semeando com lágrimas, os que voltam, vêm colhendo com exultação.” (Sl 126, 6).

2. Fala a Filosofia
Dizia um conhecido ateu francês (Albert Camus) que, ao contemplar a humanidade, o que mais lhe doía era verificar que a maioria dos homens não chega à plenitude do seu ideal ou não desabrocha todas as suas virtualidades; morrem ainda imaturos em relação à maturidade que poderiam (e deveriam) atingir. E isto, por quê? Por dois motivos:

a) muitos não têm a ajuda necessária para desenvolver todas as potencialidades que o Senhor Deus lhes deu. Faltou-lhes a assistência dos pais ou da família; faltou-lhes a escola; faltou-lhes a sociedade...

b) muitos outros, porém, não se desenvolvem totalmente por covardia ou por medo de crescer, de serem desinstalados do seu leito cômodo. Não têm a coragem necessária para empreender a podagem de suas tendências desregradas e de esculpir e cinzelar a sua personalidade. Começar é fácil, mas continuar é difícil e chegar ao termo é raro.

O ateu que assim pensava tinha razão. Muitos têm a oportunidade de se esculpir, mas falta-lhes a perseverança para continuar. Aliás, é isto mesmo que o Senhor Jesus aponta na parábola do semeador:
“As sementes que caíram sobre a pedra são aqueles que, ao ouvirem, acolhem a Palavra com alegria, mas não tem raízes; crêem por algum tempo, mas, na hora da tentação, voltam atrás. A semente que caiu entre os espinhos são os que ouviram, mas com o passar do tempo deixam-se absorver pelas preocupações, riquezas e prazeres da vida e não chegam à maturidade.” (Lc 19, 13-20)

Estas ponderações nos põem ante os olhos o valor da perseverança. Ela vai de encontro à tendência natural à acomodação, a fechar os olhos para o futuro que parece incerto e nebuloso, ao passo que o momento presente é relativamente aprazível.

O catequista saberá considerar estas reflexões com especial atenção visto que é chamado a uma das mais nobres tarefas que Deus possa confiar a alguém: colaborar para formar a imagem de Cristo no coração dos seus discípulos, ensinar como se vai ao céu e não apenas como vai o céu.

Pense e cuide perseverantemente da sua santificação pessoal para que, da sua intimidade com Deus, proceda a Palavra que cria a nova criatura!

Dom Estevão Tavares Bettencourt, OSB

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