A
virtude da perseverança é fundamental, pois sem ela não há vitória. Um atleta
que tenha corrido brilhantemente um páreo, mas que, na reta final, fraqueja,
perde a medalha. Ora, algo de semelhante se dá no plano espiritual. A
importância da virtude da perseverança pode ser demonstrada tanto por razões
teológicas, como pelo raciocínio filosófico.
1. Fala o Evangelho
No
Evangelho, Jesus recomenda três vezes a perseverança:
Mt
10,22: “Sereis odiados por todos por causa de mim, mas quem perseverar até o
fim, será salvo.”
Mt
24, 12: “Quem perseverar até o fim será salvo.”
Mc
8,15: “A semente que cai em terra boa... são aqueles que guardam a Palavra e
produzem fruto por sua constância.”
Interessa notar, que neste último texto, os que dão fruto bom, não são os que
guardam a caridade (sem mais), mas os que permanecem constantes (na caridade,
na fé, na esperança...) até o fim.
A
palavra grega traduzida por “perseverança” ou “constância” é hypomoné, que
significa “permanecer por baixo”, “suportar”. Imaginemos alguém com as mãos
abertas, sobre as quais o Senhor Deus vai depositando os seus fardos, tal
pessoa não pode dizer: “Não agüento mais!” sem que se produza um grande
desastre. Ninguém percebe o esforço heróico que tal irmão ou irmã realiza;
ninguém o aplaude. Talvez até o menosprezem por estar inerte. Por isso, a
perseverança pode chegar às raias do heroísmo, ignorado, mas vital para o
indivíduo e a comunidade a ele associada. Comparemos entre si a corrida de
salto e a corrida de fôlego: a primeira, quanto mais rápida e breve for tanto
mais gloriosa e aclamada será; ao contrário, a corrida de fôlego quanto mais
prolongada for, destituída de qualquer teatralidade, quanto mais louvável será.
Aí
temos um aspecto de nossa vida terrestre: é uma corrida de fôlego ou de longa
paciência, na qual damos um passo após outro, na fé, com muito esforço
silencioso, para o bem de quantos nos acompanham, sem que estes saibam o quanto
nos devem.
O
catequista, de modo particular, é importante na sua missão de levar a Palavra de
Deus aos corações ainda informes e necessitados de reta orientação para a sua
vida: “Os que se vão, vão semeando com lágrimas, os que voltam, vêm colhendo
com exultação.” (Sl 126, 6).
2. Fala a Filosofia
Dizia
um conhecido ateu francês (Albert Camus) que, ao contemplar a humanidade, o que
mais lhe doía era verificar que a maioria dos homens não chega à plenitude do
seu ideal ou não desabrocha todas as suas virtualidades; morrem ainda imaturos
em relação à maturidade que poderiam (e deveriam) atingir. E isto, por quê? Por
dois motivos:
a) muitos não têm a ajuda necessária para desenvolver todas as potencialidades
que o Senhor Deus lhes deu. Faltou-lhes a assistência dos pais ou da família;
faltou-lhes a escola; faltou-lhes a sociedade...
b) muitos outros, porém, não se desenvolvem totalmente por covardia ou por medo
de crescer, de serem desinstalados do seu leito cômodo. Não têm a coragem
necessária para empreender a podagem de suas tendências desregradas e de esculpir
e cinzelar a sua personalidade. Começar é fácil, mas continuar é difícil e
chegar ao termo é raro.
O ateu que assim pensava tinha razão. Muitos têm a oportunidade de se esculpir,
mas falta-lhes a perseverança para continuar. Aliás, é isto mesmo que o Senhor
Jesus aponta na parábola do semeador:
“As
sementes que caíram sobre a pedra são aqueles que, ao ouvirem, acolhem a
Palavra com alegria, mas não tem raízes; crêem por algum tempo, mas, na hora da
tentação, voltam atrás. A semente que caiu entre os espinhos são os que
ouviram, mas com o passar do tempo deixam-se absorver pelas preocupações,
riquezas e prazeres da vida e não chegam à maturidade.” (Lc 19, 13-20)
Estas ponderações nos põem ante os olhos o valor da perseverança. Ela vai de
encontro à tendência natural à acomodação, a fechar os olhos para o futuro que
parece incerto e nebuloso, ao passo que o momento presente é relativamente
aprazível.
O catequista saberá considerar estas reflexões com especial atenção visto que é
chamado a uma das mais nobres tarefas que Deus possa confiar a alguém:
colaborar para formar a imagem de Cristo no coração dos seus discípulos,
ensinar como se vai ao céu e não apenas como vai o céu.
Pense e cuide perseverantemente da sua santificação pessoal para que, da sua
intimidade com Deus, proceda a Palavra que cria a nova criatura!
Dom
Estevão Tavares Bettencourt, OSB
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